Por que ser mulher é um fator de risco biopsicosocial?

 Burnout feminino ou “Síndrome da mulher queimada”

Para começar, Burnout, é um termo em inglês que designa um estado “queimado”, que se usa na área da saúde para nomear os efeitos físicos e mentais do excesso de trabalho nas pessoas. Existe na clínica a Síndrome do Cuidador Queimado, por exemplo, que aplica para aquelas pessoas com problemas de saúde física e mental decorrentes do esforço duradouro que já foi necessário para cuidar de pessoas com altos níveis de dependência física e psicológica; é um sofrimento típico de profissionais da saúde, mães, pessoas com pais idosos que dependem delas, cuidadores/as de pessoas com deficiências profundas, etc. Dessa vez, eu queria convidar algumas (e tomara que alguns) de vocês a pensarem numa situação particularmente complexa, como é o sofrimento tipicamente feminino, que tem a ver com o papel, ou seja, as formas de participar e de agir (trabalhar) das mulheres na sociedade. Eu proponho o termo de “Síndrome da Mulher Queimada” para entendermos do que que se trata essa reflexão: não é um termo oficial, pelo menos por enquanto.

Com a ajuda de algumas reflexões da minha experiência no consultório, proponho uma análise sobre as consequências que traz para a saúde mental as formas nas quais as mulheres costumam colocar esforços e energia vital nos relacionamentos, na família e na carreira, só porque são mulheres. Ou seja, proponho uma análise sobre as formas nas quais participar como mulher na sociedade, em termos da tendência, tipicamente faz com que surjam formas de sofrimento que os homens normalmente não vivenciam. Sugiro que possamos chamar de Síndrome da Mulher Queimada a esse conjunto de caraterísticas clínicas mentais que trazem muitas mulheres brasileiras para a psicoterapia.

Como eu já disse, as mulheres costumam colocar seu “trabalho” nas relações que estabelecem com outras pessoas, na família e na carreira de uma forma “tipicamente feminina”. Aqui “trabalho” pode ser esse afazer com remuneração financeira, ou sem ela; com contrato ou carteira assinada ou sem. Ou seja, até nos espaços profissionais as mulheres agem de formas tipicamente femininas: cuidar de outros/as, se colocar em último lugar, ser forte e relevar o mal-estar, as emoções e a insatisfação para que os objetivos comuns sejam atingidos ou para que outras pessoas estejam bem ou não haja conflito. O que será que isso tudo significa? Você poderia pensar em alguns exemplos da sua experiência que venham à tona com essa descrição?

Para além do esgotamento físico, a “queimação” dos sistemas e órgãos, o Burnout é um distúrbio emocional, ou seja, do estado de ânimo, digamos um estado que pode flutuar entre muito baixa energia ou energia muito desorganizada: estados depressivos e estados ansiosos.

Talvez estejamos tratando aqui sobre um assunto que vai muito além do nível individual, já que mais do 50% da população brasileira (e mundial) está composta por mulheres. De que formas a cultura, a sociedade, a tradição ou as crenças colocam às mulheres em riscos psíquicos e físicos de esgotamento crônico como é o Burnout? Por quê tem que ser assim?

 

2 de cada 3 pessoas com distúrbios ansiosos ou depressão são mulheres!

Se você for conferir essas informações no Google, recomendo você incluir a palavra “prevalência” e passar as porcentagens para frações. “Prevalência” se refere aos dados estatísticos populacionais que explicam quanto uma doença afeta diferencialmente às diferentes parcelas da população. De fato, por cada homem que sofre de transtornos ansiosos ou depressivos, duas mulheres sofrem. Em outras palavras, tem mais ou menos o dobro de mulheres que sofrem distúrbios como depressão severa, fobia, transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático, distimia, transtorno bipolar, entre muitos outros, aos quais poderíamos juntar a carga médica da sintomatologia física de cada quadro, os distúrbios de sono, e as despesas e efeitos das medicações psiquiátricas.

 

E você (ou uma mulher que você conheça bastante), está “queimada”?

Neste ponto, temos elementos suficientes para entendermos que essa queimação clínica ou o Burnout é um estado de esgotamento físico e emocional que traz consequências para a saúde mental, que vão do desconforto até a disfuncionalidade: ou seja, a perda de controle e dos médios “energéticos” físicos e mentais para lidar com a viva em paz. Você é plenamente funcional? Você respondeu mentalmente “eu acho” só porque está conseguindo pagar todos os boletos, bater ponto no trabalho ou passar as provas da faculdade? Você pensou que acha que sim só porque os teus filhos e a tua casa estão sob controle? Vamos marcar um encontro e esclarecer as perguntas que possa ter gerado com esse artigo. 

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